segunda-feira, 22 de novembro de 2004

Covardemente

Encontrar com Jorjão na rua era uma temeridade. Aqueles olhos arregalados assustavam qualquer um. Falava baixo, mansamente, com algum conhecido que encontrava durante a caminhada. Mas não enganava ninguém. Todos sabiam do perigo.

Mesmo assim, Túlio, amigo da família comparecia a residência da mãe do Jorjão todas as semanas pra levá-la ao médico, pra fazer fisioterapia. Ela sofrera derrame dois anos atrás. Mais uma vez Túlio foi lá ajudar uma pessoa, sem saber que seu destino estava traçado, que sua vida se esvairia muito repentinamente.

Jorjão morava sozinho com sua mãe.

Túlio chega na casa, passando pelo portão grande, que nada deixa ver a quem está do lado de fora, na rua.

Dona Rigoleta já arrumada, capengando, fecha a porta da casa, mas não consegue trancá-la. Túlio a ajuda trancando-a. Jorjão aproveita a distração dele e sem dó e piedade, com um pedaço de porrete bem grande, o acerta na cabeça várias vezes.

Depois sai caminhando, e aos vizinhos que encontra pela rua, fala que tem um homem desmaiado na sua casa, e vai embora.

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